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Quem foi o Primeiro?. Uma crítica à historiografia castelhanista

| 04 de diciembre de 2010

Conta a história oficial que se nos dá nos nossos centros de estudo que a América foi descoberta por Cristovão Colombo um 12 de outubro do ano de 1492; pelo menos a história oficial espanhola.

Conta a história oficial que se nos dá nos nossos centros de estudo que a América foi descoberta por Cristovão Colombo um 12 de outubro do ano de 1492; pelo menos a história oficial espanhola. Em países como Islândia, Dinamarca, Suécia ou Noruega estuda-se nas aulas que lá pelo ano 1000 Erik Thorvaldsson, um chefe viquingue chegou desde Islândia a terra de Gronelândia e o atual Canadá ao que denominou Vinland, quer dizer, Terra das Vinhas.

Sei-que os viquingues, grandes navegadores elaboraram cartas de navegação com as costas norteamericanas desenhadas em pergaminhos de couro que sem qualquer dúvida passaram à posteridade de mãos a mãos de grandes marinheiros conhecedores da existência dessas terras do sol-pôr. Não se explica de outra forma que haja mapas como o do grande navegador turco Piri Reis conservado no Museu Topkapi de Estambul e feito a começos do século XV, mesmo muito antes do nascimento do descobridor oficial da América para a historiografia espanhola: Colombo. É curioso também que estas evidências de mapas que apresentam as costas orientais da América antes de Colombo sejam apresentadas como as notícias típicas de programas como “Quarto Milénio” do Íker Jiménez ou similares, parecendo que não há explicação racional para semelhantes mistérios e metendo-as na saca dos X-Files para que ninguém acredite nelas em vez de dar-lhes um tratamento inteligente, científico e respeitoso nas Universidades e nos Liceus.

Foi após a chegada dos chamados Reis Católicos à Corte castelhana, após a derrota da Joana de Trastâmara (“a Excelente Senhora” para a historiografia galeguista, e “La beltraneja” para os historiadores castelhanos), quando os portugueses viram fechadas as suas fronteiras pela Monarquia Hispânica, e decidem continuar por mar o rumo começado havia já umas décadas para poder fazer do Reino de Portugal um Estado viável sem cair nas mãos da ambiciosa e imperialista Castela. África foi a saída natural para estas explorações, pois penetrar no Atlântico tenebroso cheio de lendas, também era uma saída possível, e muito mais se conheciam a tradição secular iniciada por aquele Erik Thorvaldsson, o Ruivo (“Eric el rojo” como se denomina em espanhol) e o seu filho Leif Erikson, continuada da mão de posteriores navegantes medievais italianos, turcos e outros, até chegarem aos povos marinheiros do ocidente atlântico como neste caso é Portugal.

Há muitas notícias das navegações rumo ocidente favorecidas pela coroa portuguesa que as olhava como investimentos de futuro premiando os servidores esforçados por aquelas rotas longínquas e inexploradas, como os da família dos Corte Real dos que se sabe tinham terras e possessões no atual Canada por volta dos finais do século XV.

Temos referência de expedições nos anos 40 do século XV; fala-se que o Diogo de Teive, navegante e descobridor dalguma das Ilhas atlânticas portuguesas dos Açores chegou até terras americanas por volta do ano 1452; também da expedição nos anos 60 do próprio Diogo juntamente com o seu irmão João de Teive, os quais exploraram as partes mais orientais do Norte da América. Nessa situação, está também a descoberta da “Terra Nova dos Bacalhaus”, ou “Terra Nova dos Corte Real” como era denominada nesta altura histórica a atual Terra Nova canadiana.

Em 1471 ou 1472 os navegadores João Vaz Corte Real e Álvaro Martins Homem chegaram ao actual Canadá, numa expedição conjunta Luso-Dinamarquesa efetuada a pedido de D. Afonso V. Tal é assim que mesmo no Canadá é de ensino comum aos alunos de história isto que estou a escrever, sendo de importância grande para o estudo da história do país americano que ergueu uma estatua a um dos Corte-Real, ao Gaspar Corte-Real, em Ottawa em 1999 como fito comemorativo daqueles eventos. Assim mesmo, sendo expedições nas que colaboravam com os portugueses, experimentados marinheiros dinamarqueses descendentes daqueles viquingues que chegaram a Vinland é fácil acreditar nas expedições pré-colombinas bem sucedidas para qualquer historiador não castelhanista. Para eles não são X-Files.

É interessante, mesmamente, reparar no nome galego-português que se lhe dá à Terra Nova, não em latim como se nos tem dito, já que originariamente era como temos comentado acima: “Terra Nova dos Bacalhaus”. Já naquela altura os portugueses iam pescar os bacalhaus àquelas terras e ainda hoje a procedência deste peixe tão típico na sua culinária é das zonas orientais do Canadá, nomeadamente a Terra Nova.

Pêro de Barcelos e João Fernandes Lavrador partiram em 1491 também rumo ao actual Canadá, um ano antes do que Cristovão Colombo “descobrira” as Ilhas das Caraíbas. Foi o segundo dos expedicionários quem lhe pus o nome de Península de Lavrador ao grande território onde está assente o actual Quebeque. É por isso pelo que muitos historiadores suspeitam que o Cristovão Colombo já sabia da existência destas terras muito antes de ele falar com a Isabel de Trastâmara, a Rainha Católica. O facto de lhe pedir em propriedade as terras descobertas por ele numa das expedições dando a entender que o queria tudo –foi por isso que não aceitou o Rei Português- é o que nos faz acreditar que ele sabia que lá havia terras e muitas riquezas. A segurança que manifestou em todo o momento de que ia achar territórios não conhecidos pela gente castelhana; os muitos segredos que tinha o Colombo aos olhos dos próprios castelhanos e o ter vivido muitos anos antes em Portugal fazem acreditar na ideia de que estava bem informado do que haveria para além do Atlântico. Só a historiografia castelhanista faz que não sabe e que não percebe que antes tinha havido muitos movimentos de europeus ao redor da América. Tudo para terem o falso prestígio de serem eles os primeiros.

Com tudo isto quero dizer que a História sempre é uma narração que cada um interpreta segundo o seu jeito e os seus interesses, daí o dito famoso de que “Cada um fala da feira segundo lhe vai nela” mas no caso da mal chamada descoberta da América é muito evidente a mentira histórica na que nos meteu a historiografia castelhanista que não explode porque está sustentada por um poder político que é o mesmo que sustenta a ideia que dá razão de ser ao próprio Estado com a identidade \"una\" e \"unificadora\" que o carateriza, deixando para o mistério elementos que as historiografias de outros países recolhem como elementos de estudo e de transmissão totalmente fidedignos e válidos.

A historiografia castelhanista é das mais irreais, mitologizadas e manipuladas de Ocidente. O problema é que esta narração dos factos está tão assumida pelos cidadãos do comum que aceitam sem a mais mínima crítica aquilo que se lhes ensina nos liceus e nas Universidades de Espanha, que mesmo insinuar simplicidades que contradizem a doutrina oficial e facilmente demonstráveis como por exemplo o protagonismo do Reino da Galiza durante a Idade Média, a identidade linguística galego-portuguesa ou a chegada dos europeus à América, é motivo de excomunhão inteletual e de perseguição feroz.

São estes assuntos de muita controvérsia já que são estas cousas as que lhe dão sustento a ideia da Espanha profunda e castelhana e única. Sem essas usurpações científicas, a Espanha que se nos vende, de língua castelhana para todos, de touros, do Cid e Don Pelayo, de flamenco e mouraria, de Castela a grande, de encontro de culturas e da sorte que tiveram os americanos porque lhe levaram o catolicismo, não seria mais do que uma autêntica caricatura de si própria. Só no momento em que os poderes políticos mais carpeto-vetónicos e nacional-católicos deixem de ter a influência que têm será que a gente possa conhecer as mesmas cousas que se conhecem em outros lugares da Europa civilizada. Esse dia, esse modelo de Espanha tal qual a conhecemos hoje vai deixar de existir para bem de todo o mundo, dentro e fora da península.

 

 

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