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Treinar e Adestrar ou a imposição da ignorância

| 25 de diciembre de 2010

A interdisciplinariedade é um elemento interessante a ter em conta em todo o momento, mas ainda é muito mais ao tratarmos sobre assuntos da língua, tanto da sua história, como do seu lugar dentro da família românica ou em relação ao seu Córpus.

A interdisciplinariedade é um elemento interessante a ter em conta em todo o momento, mas ainda é muito mais ao tratarmos sobre assuntos da língua, tanto da sua história, como do seu lugar dentro da família românica ou em relação ao seu Córpus.

Muitos de nós (por evitar-me o exagero de dizer “Todos nós”) estamos fartos de saber quantas as incoerências, quantas as irregularidades e faltas de lógica há nas normas RAG. Todas e todos, cada um desde o seu âmbito científico e/ou laboral, poderíamos acrescentar uma grande bateria de argumentos que deitariam por terra uma grande quantidade de formas normativas usadas pelos média galegos, pela administração, pelos lideres políticos e ainda pela gente do comum contaminada por esse engendro populista que faz acreditar a muitos na existência na Galiza duma língua “de seu” tão original e isolada como o euscaro ou o coreano. Como se isso fosse o “non plus ultra” do mundo da linguística, da filologia e da reivindicação da singularidade dos povos.

Todos conhecemos as “originalidades” da norma RAG quando nos propõe (ou impõe?) construções léxicas como “Esoxeno” ou “Osíxeno” tão habituais nos livros de texto dos nossos alunos de física ou química (1), contando com que os rapazes e as raparigas de primária e secundária não conheçam o facto da importância que tem a etimologia para o léxico científico, como nos tem comentado tanto o nosso amigo e companheiro Carlos Garrido, ainda que parece que os professores muita ideia também não têm.

Uma língua que opta por formas como “Esoxeno” e “Osixeno” não é uma língua que poda servir para transmitir conhecimentos científicos porque deturpa a comunicação. Mesmo me atreveria a dizer que não é uma língua. E é que essa filosofia filológica é uma dessas típicas teorias científicas (por chamar-lhe algo) que uma vez expostas, exprimidas, fracassadas e superadas não podem nem devem ser lembradas nunca mais na história se não é como exemplo do absurdo para as gerações futuras.

Lembro, com isto que vos conto, o que lhe aconteceu a um amigo a quem uma conhecida editora isolacionista lhe ofereceu fazer um livro de contos infantis com aproximadamente cem mil palavras por 3.000 Euros. O meu amigo, respondeu numa humilde comunicação telefónica com o responsável que não podia aceitar esse trabalho porque no galego RAG não havia cem mil palavras.

A minha actividade laboral diária envolve-se no ensino relativo à matéria que chamamos Educação Física, e isto, ainda que não pareça, também tem pensamento e teoria científica, com uma nomenclatura determinada, com conceitos claros e concisos, hipóteses, pensamento e filosofia. Essa que tão difícil é de exprimir e que tanta dor de cabeça faz ter a quem se atreve a penetrar nela. Conceitos como o de “Adestrar” ou “Treinar” vêm-se-me facilmente à minha cabeça e à minha boca quando tenho de comunicar com os meus alunos. E difícil é, porque adequar a minha fala expontânea a uma realidade normativa absurda e imposta faz-se habitualmente difícil até o extremo de ver como se movem os fios ocultos quando se me escapa algum “lusismo”.

Quando Tério Carrera ou Manolo Pampín, e sobre tudo os seus assessores linguísticos (de os haver) dizem que Arsénio Iglésias, David Vidal ou Fernando Vázquez são “adestradores” seguramente não conhecem que para os teóricos da Educação Física como José Maria Cagigal (entre outros muitíssimos), “adestrar” implica só desenvolvimento motor. Algo que não é coerente com a ideia de preparação para o desporto de competição que precisa de técnicas, tácticas, estratégias, que a sua vez implicam uma planificação, inteligência na ação que tenta poupar esforços e conseguir com isso o maior e mais vantajoso sucesso a respeito do concorrente.

“Adestrar” é simplesmente trabalhar a parte mecânica de tal forma que o ser humano necessita outra forma de preparação para a competição. Assim em francês utiliza-se a palavra “entraîner”, em inglês “to train”, em espanhol “entrenar” e no resto do nosso domínio linguístico “treinar”. Esta forma deriva do latim popular TRAGINARE derivado à sua vez de TRAGERE como alteração de TRAHERE (levar de un lugar afastado a outro mais próximo).

É uma forma léxica que denota e implica uma preparação racional e planificada com a finalidade de conseguir um objectivo mercê a uma preparação prévia e uma educação do desportista mediante uma metodologia com importantes elementos pedagógicos e portanto exclusivamente humanos. Por outra parte “adestrar” vem da construção latina AD DEXTRARE, quer dizer, fazer destro, hábil, com conotações puramente mecânicas e motoras.

O treinamento implica aspectos qualitativos enquanto o adestramento só quantitativos, mecanicistas, parciais e limitados ao aspecto físico.

Evidentemente a comunicação dos comentaristas da TVG vai destinada maioritariamente para gente formada, informada ou desinformada em qualquer cousa excepto na teoria da Educação Física... mas os que sim estão ou estamos minimamente formados e somos professores devemos por imperativo legal seguir as normas RAG. E em caso de discrepância aplicar-se-ia primeiramente o artigo primeiro do regulamento não escrito do ensino: “A norma RAG sempre tem a razão”, para em caso a alguém vir-lhe à cabeça algo de filosofia e portanto de discrepância, imediatamente aplicar o artigo segundo: “A norma RAG não se discute”.

Digo-vo-lo eu que o sufro.

 1-“Eso-xeno” viria significar seguindo a etimologia algo assim como “estrangeiro de dentro” onde Eso=adentro e Xeno=estrangeiro. Quando se for escrita à forma portuguesa, espanhola, francesa, inglesa, etc... “Exogeno”, significaria “originado fora”: Exo=fora, Genos=origem

 

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