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ATLAS HISTÓRICO DA GALIZA. DE JOSÉ MANUEL BARBOSA

Atlas histórico da Galiza

Agencias  |  26 de junio de 2010 (13:18 h.)
Os professores José Manuel Barbosa e José Manuel Ribeira elaboraram o Atlas histórico da Galiza, que em 84 mapas e 70 textos tenta informar da evoluiçom do país desde os tempos da prehistória. Barbosa mergulhou durante cinco anos em estudos de diversos autores.\"

Muitos som os elementos que fazem recomendável este volume, mas entre todos eles há dous que merecem salientar-se especialmente: em primeiro lugar esclarece como as actuais fronteiras do território galego som relativamente recentes, pois fôrom modificadas por última vez em 1864; e coloca Galiza no centro, estudando-a como um todo, em lugar de como parte de um todo.

Estas duas circunstáncias resultam especialmente enriquecedoras. É um lugar comum que nos mapas de publicaçons recentes, mesmo de algumhas especializadas, e em livros de texto para o ensino, se amostre a Galiza com a actual configuraçom para referir-se a tempos pretéritos, como se o território das quatro provincias fosse sempre como agora. Até se podem ver mapas sobre a Idade Média com a actual divisom territorial. Porém, foi na primeira metade do século XIX quando se estabelecêrom os límites orientais; e os do Sul no Tratado de Fronteiras de 1864, sendo esta a última transformaçom, segundo se indica na p. 142.

Em total oferecem-se-nos neste Atlas 70 textos informativos (2 da Pré-História, 5 da Proto-História, 2 da Idade Antiga, 36 da Idade Média, 9 da Idade Moderna e 16 da Idade Contemporánea) e 85 mapas (2 da Pré-História, 5 da Proto-História, 12 da Idade Antiga, 41 da Idade Média, 9 da Idade Moderna e 16 da Idade Contemporánea). Servem para revisitar a história da Galiza, desde o Paleolítico Superior, em que se estima (p. 10) que pudessem ter vivido os primeiros grupos humanos de caçadores e recolectores no actual territorio galego há mais de 120.000 anos (no entanto, como na mesma página se indica, as provas do Carbono-14 falam de umha dataçom aproximada há uns 24.750 anos, na zona das Gándaras de Budinho) até à actualidade. Atendem-se também de maneira especial as transformaçons lingüísticas.

Há trabalhos de leitura certamente muito aliciante, como v. gr. o intitulado “A Galiza na Europa do ano 500”, em que se relata como (p. 50) “o reino da Galiza governado polos suevos é o primeiro território independente do Império Romano”; ou o que se ocupa da “Partilha da Galiza entre Teresa/Enrique e Urraca/Reimundo”, em que se referem (p. 74) os factos que antecedêrom o processo de independência política de Portugal, específicamente analisado mais para a frente (na p. 80), acompanhado de um impactante mapa (p. 81) do Reino da Galiza, que teria naquela altura limites orientais com os de Navarra e Aragom e com as diferentes taifas da Península, chegando o seu extremo sul até ao rio Tejo.

Para dar umha ideia do teor deste volume, vale a pena citar um exemplo, quando foca “A Guerra Peninsular na Galiza”, acontecimento relacionado com a Guerra contra o Exército da França na primeira década do século XIX, factos de que neste ano se está a comemorar o bicentenario, quando se afirma (p. 134):

[Após Maio de 1808]. Na Galiza cria-se a Junta Suprema do Reino, autêntico governo soberano da Galiza que vai organizar de forma executiva a política exterior, a economia e um exército nacional galego que vai ser o protagonista da expulsom dos franceses da Península. Esta Junta tinha as competências todas dum país soberano com jurisdiçom militar e civil, com poder executivo e com diplomacia. Mercê a isto último consegue-se uma aliança militar com o Reino Unido em Junho de 1808.

Na continuaçom há mais textos sobre esse asunto, para além de dous mapas, nas três páginas seguintes. Para se referir aos acontecimentos que derivárom no fuzilamento dos Mártires de Carral define-os de (pp. 146-147) “Revoluçom de Abril de 1846”. Oferece igualmente informaçom e mapas de (pp. 150-151) “A Guerra de 1936-1939 na Galiza. Resistência e Repressom”, bem como de (pp. 152-153) “A guerrilha antifranquista na Galiza” situando as principias zonas de actuaçom da mesma.

A parte mais recente atinge a actual Comunidade, no quadro do Estado Español, informando com pormenor das Comarcas e Concelhos estabelecidos (pp. 156-157) polo Governo Autonómico, mas também (pp. 158-159) “segundo o soberanismo galego”, e mesmo com (pp. 160-163) “apontamentos próprios” e umha “Proposta de regionalizaçom”, que se realiza “seguindo critérios históricos, geográficos e territoriais”.

Segundo depoimento de José Manuel Barbosa na sequência do lançamento público deste volume, celebrado em 24 de Julho no Festigal, em Compostela, a elaboraçom foi resultado de quatro anos de pesquisas. Na parte final inclui a Bibliografia utilizada, também um guia importante de textos, em que se incluem 12 títulos para o estudo da Pré-História, 6 para o da História Antiga, 33 para o da História Medieval, 19 para o da História Moderna e 17 para o da História Contemporánea.

O historiador que se utiliza como fonte principal em vários períodos é Emilio González López, mas também se vale de outros investigadores e autores galegos (Carvalho Calero, Risco, Cuevillas, Carlos F. Velasco Souto, R. Villares, Justo Beramendi e Núñez Seixas, Anselmo López Carreira, Jesús de Juana, Dionisio Pereira, García Fernández-Albalat, Bernárdez Vilar, José García Oro, Luís Manuel García Mañá, Álvaro X. López Mira, Xosé Ramón Barreiro Fernández, Rosa Brañas, Casimiro Torres, Xavier Castro...) bem como portugueses (Oliveira Marques, Jorge de Alarcão, Orlando Ribeiro, José Lopes Alves, Manuel de Sousa, Carlos de Azeredo) e outros trabalhos de Eugénio Coseriu, Alonso Zamora Vicente, Harmut Heine, Commandant Var, Georges Duby, entre outros.

Seria bom que, em próximas ediçons, se incluissem notas de rodapé para indicar a procedência de vários textos, bem como um prefácio para dar conta dos objectivos e metodologia.

Em definitivo, um contributo positivo e recomendável, que abre caminhos e perspectivas, fruto de um muito generoso esforço de documentaçom e de redacçom dos dous autores, os dous profissionais do ensino, e que pode responder a muitos interesses e contrubuir com sugestons muito valiosas para um maior e melhor conhecimento da Galiza.

Merecem destaque o grafismo de José Manuel Gonçales Ribeira, que faz muito atraente o volume e resulta de grande ajuda para facilitar a leitura; e o magnífico labor de ediçom.

Livro, por tanto, para (in)formar(-se), mas que também é um bom objecto para presente. Vale a pena para ter na libraría particular, e merece estar nas das instituiçons públicas para consulta dos estudiosos.

A razom pola que escrevemos o Atlas Histórico da Galiza

Por José Manuel Barbosa

Conto número 1:

Um Doutor muito importante chamado Doutor Watzlawick conta-nos que num laboratório onde se fazem experimentos com animais, um investigador está tentando fazer um reflexo condicionado com dous ratinhos de laboratório. Nesse momento entra um homem com umha bata branca e é que umha das ratinhas diz à outra com expressom inteligente: “Olha, vês esse homem com a bata branca? Tenho-o totalmente amestrado, cada vez que baixo esta alavanquinha dá-me de comer”.

Conto número 2

Um senhor muito crente sentia que estava próximo de receber umha luz que lhe ensinasse o caminho a seguir. Todas as noites ao se deitar pedia-lhe a Deus que lhe enviasse um sinal para que lhe dissesse como é que tinha de viver o resto dos seus dias. Estivo assim durante muitos anos, nesse estado quase-místico aguardando um sinal divino.

Mas um dia, dando um passeio por um bosque viu um pequeno cervato deitado no chão, ferido e com umha pata quebrada. Ele ficou a olhá-lo quando repentinamente apareceu um leom. Aquilo deixou o homem com o corpo paralisado e o sangue frio nas suas veias; o leom estava pronto para engolir o pobre cervato. O homem ficou em silêncio com o temor de ver o leom também acima dele. De forma muito surpresiva o leom foi-se achegando ao cervato e em vez de comê-lo começou a lamber-lhe as feridas. Depois deu a volta e apanhou umhas folhas húmidas, acercou-lhas ao cervato com a pata para que pudesse beber água e ainda trouxo um bocado de erva para dar-lhe de comer. Inacreditável.

Ao dia seguinte, quando o homem regressou ao lugar, viu que o pequeno cervato ainda estava lá e que o leom atendia a fome e a sede do animalinho para além de lhe lamber as feridas quando estas lhe doíam. O homem disse: “Este é o sinal que estava a procurar. É muito claro. Deus ocupa-se de prover a quem o necessitar, o único que há de fazer é aguardar e nom correr detrás das cousas”. O homem pegou nas suas cousas e foi-se colocar à porta da sua morada a aguardar alguém que lhe trouxesse de comer e de beber. Passaram as horas, os dias e as semanas mas ninguém dava absolutamente nada. Aqueles que por lá passavam olhavam para ele enquanto ele punha expressões de pobre homem morto de fome e sede. Foi assim até que um dia passou-se por ali um outro homem muito sábio que morava naquele lugar ao qual se dirigiu o nosso protagonista dizendo-lhe: “Caro amigo, Deus é que me enganou. Enviou-me um sinal errado para fazer-me ver que as cousas eram dum jeito e na realidade som de outro. Porque me tem feito isto? Eu sou um homem que acredita nele...”

Seguidamente contou-lhe o que lhe acontecera no bosque anteriormente...

O homem sábio ouviu e escuitou para depois dizer-lhe: “Eu quero dizer-che algo. Eu sou também um homem que acredita nele. Deus nom envia sinais vãos. Ele enviou-che um sinal para que apreendesses”. Mas o homem perguntou: “Porque me abandonou?”

Entom o sábio respondeu: “Que fazes aqui tu que és forte e inteligente como um leom e estás pronto para lutar polas cousas que consideras justas comparando-te com um débil cervato ferido? O teu lugar é procurar as necessidades de quem te precisar e lutar por elas.

Eis as razões polas que escrevemos o Atlas:

  1. Porque a visom das cousas nom é a mesma para todo o mundo. Nós temos a nossa particular forma de ver a realidade presente, passada e futura. Há umha narraçom dos factos galega; umha forma de ver o mundo desde aqui e portanto umha versom galega de ver a história.

  2. Porque nom somos um débil cervato ferido. Somos um forte e poderoso leom que pode subverter a ordem “natural” das cousas; podemos lutar em vez de aguardar que nos chova do céu umha ajuda que nem Deus nos vai oferecer. Só nós devemos procurar a nossa ajuda.

  3. Só com grandeza da nossa alma e inteligência é que podemos solucionar os nossos problemas

 

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